Arte pública: Aluísio Carvão


Assine este abaixo-assinado pelo salvamento do painel de azulejos de Aluísio Carvão

http://www.abaixoassinado.org/assinaturas/assinar/4918

Datado de 1996, com 300 metros quadrados, localizado na Rua Mario Ribeiro, Leblon (auto estrada Lagoa/Barra), no muro do quartel da PM, o painel de autoria do pintor Aluísio Carvão*, cuja instalação foi supervisionada por ele em detalhes, está se deteriorando. Os azulejos desaparecem diariamente.
Em matéria publicada pelo O Globo, sobre o abandono das obras de arte em espaço público na cidade do Rio de Janeiro, a diretora de conservação de monumentos da Fundação Parques e Jardins, admitiu que o critério para a manutenção das mesmas é o número de reclamações do público, assim, segue a nossa petição para a restauração e conservação do painel.
Tornam-se necessárias providências imediatas antes que seja tarde demais! Aloísio é um mestre da cor e patrimônio da nossa cultura.
* O pintor Aluísio Carvão (1920-2001) nasceu em Belém do Pará e viveu no Rio de Janeiro. Expoente do movimento Neo-concreto, lecionou no MAM - Museu de Arte Moderna -RJ e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Participou de inúmeras bienais e exposições no Brasil e no exterior. Artista consagrado, legou à cidade do Rio, conectando-a com sua própria história, uma de suas últimas grandes obras.

Autores: Mario Fraga e Clarisse Tarran
E-mail: painel.aluisio.carvao@gmail.com

MAM-Rio

Luiz Camillo Osório, o novo curador do MAM do Rio, respondeu hoje a algumas perguntas feitas pelo Raul Mourão e publicadas em seu bRog.

Raul Mourão— Como você ve o atual momento do MAM no cenário das artes plásticas brasileiras? Muitos acham que o museu vive uma crise, que já não tem a importância de outras épocas. Qual o seu diagnostico? Qual o grande desafio do MAM hoje?
Luis Camillo Osório— O momento do MAM é reflexo do momento do Rio. Meu diagnóstico, todavia, é que é mais fácil transformar esta realidade do MAM, do que, por exemplo, a do futebol carioca. Muita coisa precisa ser feita, a primeira delas é tornar o museu mais acolhedor, pensar mais na recepção do público. Junto a isso, criar uma agenda mais propositiva de exposições que para se viabilizar precisa de captação. Dinheiro existe, há que se mostrar que ele ali é bem empregado e que dá visibilidade para quem investe. Não se muda o cenário da noite para o dia, mas pequenos sinais devem ser dados desde o primeiro momento. Quero também que os artistas sintam-se convidados a se mobilizarem e que terão ali uma interlocução digna e produtiva. Uma coisa é certa: o MAM tem história e uma excelente coleção (do museu + a do Gilberto); falta criar uma imagem mais oxigenada para se abrir horizontes de futuro. O sonho de qualquer museu é que as pessoas se dirijam a ele espontaneamente, sabendo que serão bem recebidos e com uma programação de qualidade.

Raul Mourão— A cidade passará por mudanças na zona portuária, a Lapa já é uma realidade, a Praça Tiradentes dá sinais de revitalização. A Casa Daros está em obras e parece que o novo MIS, Pinacoteca do Município e Museu do Amanhã serao construidos de fato. Como o MAM se posiciona no meio desse cenário? Como você enxerga as conexões entre o MAM e a cidade?
Luis Camillo Osório— Tudo que for feito é bom para o MAM. Investimento em cultura puxa mais investimento. Esta história da Pinacoteca, no entanto, independentemente de estar agora na curadoria do MAM, me parece uma enorme furada. É pior do que o Guggenheim, pois não tem nem a coleção deles por trás e nem a simbologia de novidade que haveria no tal projeto abortado. O nome já mostra que é uma idéia do passado. Pinacoteca é coisa do século XIX não do XXI; ficar copiando São Paulo é de um provincianismo anti-carioca. O MAM é o principal museu da cidade e todas as coleções que quiserem vir se agregar tenho certeza que serão bem vindas. Uma cidade que não cuida do seu museu de arte moderna não merece sediar uma olimpíada!

Raul Mourão— Qual o público do museu? Que público você pensa em atrair para o museu?
Luis Camillo Osório— O público do museu tem que ser trabalhado. Há que se abrirem novas frentes. Não pode ser um nicho das artes plásticas e sim um lugar de agregação dos vários segmentos da cultura carioca e brasileira. O público de dança, de teatro, de poesia, enfim, o público de arte tem que saber que ali é também a sua casa. Era assim no passado e iremos trabalhar para isso. O Frederico Coelho, que será meu assistente, fez o doutorado em letras sobre os escritos do Oiticica e o mestrado sobre música popular brasileira. É este universo ampliado que temos que resgatar, propor atividades combinadas, discussões que atravessem estes vários circuitos de criação. O exercício experimental é fermentado em um território poético comum e é isso que devemos viabilizar.


Raul Mourão— Saiu na nota de hoje no Globo que você quer fortalecer as ações de educação e pesquisa no MAM. Fale um pouco sobre isso.
Luis Camillo Osório— Esta resposta anterior já toca na pergunta sobre pesquisa e educação. O artista tem que perceber sua dimensão pedagógica, uma pedagogia não convencional. Além disso, o museu tem que ser uma mistura de laboratório e de escola, ou seja, é um lugar de experimentação e de formação. A atividade educativa com escolas está desmobilizada faz alguns anos e isso tem que mudar. São as escolas que habitam o museu durante a semana e criam um calor necessário para o visitante. Este calor é parte do que eu falava em relação ao acolhimento do museu. Há que se criar programas originais. Trabalhei no MAC com o Guilherme Vergara e quero muito desenvolver projetos com ele nesta área educativa. A educação e a pesquisa são braços fundamentais da curadoria. Outra coisa é este convênio que estou desenhando entre a PUC e o MAM. Sou professor da PUC de tempo contínuo, vou continuar dando aula na graduação e na pós-graduação, orientando dissertações de mestrado e teses de doutorado. Acho que é uma parceria interessante para as duas instituições. Os alunos da PUC - de vários departamentos - podem ir para o museu fazer estágio, ajudar no trabalho e ganhar experiência. Quero incentivar também a discussão de arquitetura e design, além de criar um grupo de estudo em curadoria e para isso vou procurar alunos de pós-graduação e professores da PUC. Enfim, teremos muito trabalho e contamos com o apoio não só do meio de arte, mas de todos os cariocas.

Enquanto isso... (5)

N'O Globo de hoje: "O crítico de arte e professor da PUC, Luiz Camillo Osório será o novo curador do MAM do Rio. Ele entra no lugar de Reynaldo Roels, morto no mês passado, e, entre seus planos está um convênio entre a PUC e o MAM, para recuperar a tradição do museu como espaço de pesquisa e educação."

Enquanto isso... (4)

Entre

Obrigatória a última entrevista do site Entre, com os arquitetos Otavio Leonídio e João Pedro Backheuser.

"Na pauta principal da conversa esteve a cidade do Rio de Janeiro e a situação atual da arquitetura brasileira, especialmente a carioca. Discutimos sobre a trajetória, a parceria, o escritório e os projetos. A entrevista também se ocupou em debater sobre a importância do ensino e da crítica para a arquitetura. Acima de tudo, foi uma análise preocupada e consciente da situação atual da nossa profissão."

Porto Maravilha

O James Corner Field Operations —escritório co-autor com Diller Scofidio + Renfro (vencedor do projeto para o novo MIS) do High Line em Nova York— foi o vencedor de um concurso para o projeto de paisagismo de um píer na Filadélfia, Estados Unidos. Enquanto isso, o Rio terá seu porto revitalizado sem a participação dos arquitetos, sem concurso de projetos, sem discussão. O prefeito Eduardo Paes diz que "o próximo passo é o lançamento de editais para a contratação das empresas para as obras". E os projetos?
Os projetos ficaram por conta dos arquitetos da própria prefeitura. Enquanto na Filadélfia faz-se um concurso para o seu Píer e escolhe-se um grande escritório de arquitetura e paisagismo, o Rio vai ter um jardim no seu píer Mauá. Com direito a chafariz e pórtico neoclássicos, quiosques, decks e um anfiteatro.
Em breve os tapumes aparecem e vai ser tarde demais...

Enquanto isso... (3)

Pra não esquecer:


Vídeo de apresentação do projeto "Porto Maravilha".

Um ícone para Copacabana (6)

O site concursosdeprojeto.org tem publicado os projetos concorrentes do concurso para o edifício do novo MIS do Rio de Janeiro. O último foi o do Bernardes+Jacobsen, antes disso publicou o do Brasil Arquitetura e do Diller Scofidio + Renfro.

Enquanto isso... (2)

E a Cidade da Música?

Arte pública (2)

matéria d'O Globo de hoje, sexta-feira, 21 de agosto de 2009

matéria d'O Globo de domingo, 16 de agosto de 2009

Enquanto isso...

Antiga Rua Larga pode recuperar seu prestígio <http://oglobo.globo.com/rio/mat/2009/08/20/antiga-rua-larga-pode-recuperar-seu-prestigio-757677600.asp>


Passarela em frente ao Obelisco de Ipanema será demolida <http://g1.globo.com/Noticias/Rio/0,,MUL1275494-5606,00-PASSARELA+EM+FRENTE+AO+OBELISCO+DE+IPANEMA+SERA+DEMOLIDA.html>

Arte pública

Vitor Garcez


No início deste ano recebi do querido amigo Mario Fraga um e-mail com um manifesto feito por ele e Clarisse Tarran pela preservação e conservação de uma obra de arte pública, um painel de Aluísio Carvão. Esse foi, para mim, o início de uma movimentação em torno das obras de arte públicas da cidade do Rio. O manifesto que recebi na época eu transcrevo abaixo:

Manifesto pelo salvamento de uma Obra de Arte Pública: o Painel de Azulejos de Aluisio Carvão

Datado de 1996, com 300 metros quadrados, localizado na Rua Mario Ribeiro, Leblon (Estrada Lagoa/Barra), no muro do quartel da PM, o painel de autoria do pintor Aloísio Carvão*, foi confeccionado por Márcia Nogueira, e supervisionado por ele nos mínimos detalhes.

A obra de arte está se deteriorando, os azulejos desaparecem diariamente. Uma tristeza! Onde estão os responsáveis pelo patrimônio público? A quem foi confiada a manutenção do referido painel? Tornam-se necessárias providências imediatas antes que seja tarde demais! Um painel de azulejos deve durar séculos. Aloísio é um patrimônio da nossa cultura e um mestre da cor.

Vamos salvar esta obra de arte que é um patrimônio cultural da cidade do Rio de Janeiro.

*O pintor Aluísio Carvão (1920-2001) nasceu em Belém do Pará e viveu no Rio de Janeiro onde encontrou o ambiente cultural propício para o desenvolvimento de sua arte. Lecionou no MAM-Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, participou de inúmeras Bienais e Exposições no Brasil e no exterior (Alemanha, Japão, México, Suíça e França e outros países).

O manifesto passou por muitas pessoas e uma delas foi o arquiteto Alfredo Britto, que estava fazendo um projeto em parceria com o também arquiteto e ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba, Jaime Lerner. Alfredo me disse que eles estavam realizando para o local onde se instala o 23º Batalhão da Polícia Militar um projeto para um novo parque, o Parque da Bossa Nova, sobre o qual eu já tinha ouvido falar por alto. O projeto realocaria o painel que foi feito especificamente para aquele local para alguma parte do terreno do parque. Sem fazer um juízo de valor do projeto, que tem um edifício a partir da forma de um teclado —segundo matéria da Arcoweb—, é preciso que se pense sobre o valor dessa obra de Aluísio para a qualificação daquele lugar. Se realocado, isso deveria ser feito com muito critério.

No dia 24 de julho último, aconteceu no auditório da Escola de Artes Visuais do Parque Lage um debate que tratou da "Ocupação do espaço público carioca", organizado a partir de um abaixo-assinado que solicitava das autoridades competentes "a formulação de uma política cultural com o objetivo de organizar e de criar critérios para a administração dos monumentos públicos existentes, bem como para a alocação de novos, sejam esculturas ou qualquer outro tipo de interferência". Depois da primeira reunião, uma segunda aconteceu, mas como não pude ir, não soube no que deu. Na primeira, discutiu-se muito, falou-se da cidade, da mediocridade cultural pela qual a cidade passa hoje —já tendo sido capital administrativa e cultural do país. No entanto, o tema central acabou sendo a proliferação das estátuas com homenagens diversas pela cidade, sem qualquer qualidade e pertinência artística ou urbana —do “cabeção” do Getúlio a um deformado Dorival Caymmi acenando com um violão. Isto enquanto artistas tentavam falar em nome da conservação de suas próprias obras de arte públicas.

Mais do que a simples conservação das obras existentes —que acaba parecendo uma questão muito maior do que deveria ser, se esses fossem simplesmente conservados— a proposta da reunião na EAV é a criação de uma política pública para a conservação e aquisição de obras de arte públicas para a cidade, de maneira controlada. No último domingo o Segundo Caderno do jornal O Globo publicou uma matéria de capa sobre este estado de não-conservação de algumas obras importantes na cidade.

Para além da movimentação coletiva em torno do tema, persiste a mobilização de Mario Fraga e Clarisse Tarran em defesa do painel de Aluísio Carvão, que não foi citado em tal matéria.

Essa bossa não é nova

Clarisse Tarran

1.

A cidade veloz esconde, em vidros escuros e em nossa eterna exaustão opaca, o muro que passa. Deixamos de ver o mundo, na pressa ou extenuados. O transeunte, o guarda atento, o cruzamento, o buraco. A hora, o sinal, o degrau, o motorista mau humorado. A cidade transborda.

Na repetição do caminho percebemos a ausência. Um, três, seis, quarenta, duzentas partes faltantes no extenso mural de cor. Percebemos a ausência a cada passagem. Painel de azulejo deveria ser para uma certa eternidade. O artista já nos falta.. E falta o Estado.

O painel de Aluísio Carvão se esvai na auto-estrada Lagoa-Barra.


2.

As últimas manifestações, petição e manifestos na internet, encontro de artistas, curadores e autoridades do governo na EAV do Parque Lage, acerca da falta de critério para as aquisições das peças de arte pública no Rio de Janeiro e o péssimo estado de conservação das mesmas, evoca um contexto maior de como se compreende a cidade e os valores que a permeiam.

O encontro no Parque Lage, convocou a classe das artes visuais que compareceu em peso lotando o auditório da escola numa segundafeira à noite. Na plateia, artistas com esculturas em total estado de abandono, como Ivens Machado, Ângelo Venosa e Chica Grancchi esperavam alguma resposta plausível. Organizado por João Magalhães e Carlos Zílio a comissão formada e diluída na gestão Cesar Maia, por Fernando Cocchiarale, Paulo Herkenhoff, Ernesto Neto, Everardo Miranda, Lauro Cavalcanti (ausente) e outros, explanou historicamente e debateu, rebatendo as argumentações de praxe das autoridades presentes, Washington Fajardo, subsecretario municipal de Patrimônio e Adriana Rattes, Secretária Estadual da Cultura, que dispostos a modificar a situação atual, se comprometeram a recriar a comissão e paralisar as aquisições até segunda ordem.


3.

O painel de Aluísio Carvão, inaugurado em 3 de dezembro de 1996 é situado na divisa do terreno do 23º Batalhão da Polícia Militar com a Rua Mário Ribeiro, entre a Rua Bartolomeu Mitre e Avenida Visconde de Albuquerque, no caminho da autoestrada Lagoa-Barra.

A obra foi realizada pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através da Secretaria Municipal de Cultura / Instituto Municipal de Arte e Cultura – Rioarte, com apoio da Sub-prefeitura da Zona Sul e do 23º Batalhão da Polícia Militar.

Aluísio Rodrigues Carvão, nascido em 24 de janeiro de 1920 em Belém do Pará e falecido em 15 de novembro de 2001 em Poços de Caldas, Minas Gerais, é considerado “mestre colorista”, pelo “intenso cromatismo de sua arte” e foi “um dos primeiros a se alinhar ao movimento neoconcretista”, participando do Grupo Frente ao lado de Ivan Serpa, Helio Oiticica, Ligia Clark, Ligia Pape, Décio Vieira e Ferreira Gullar, entre outros mais. Participou de muitas mostras coletivas e individuais, trabalhou também como professor, cenógrafo, ilustrador e escultor. Sua obra teve uma trajetória intensa e tem o respeito e admiração de críticos e artistas dos mais considerados.


4.

É realizada uma segunda reunião na EAV do Parque Lage. Sem a mesma divulgação pela web como na primeira. Portas começam a se fechar.

Não pode ser questão de gosto. Não podem esquecer o entorno. A cidade é feita de muitas camadas. Instituições são feitas de pessoas. Pessoas e instituições movem a cidade.


5.

Matéria de capa do Segundo Caderno do jornal O Globo, fala-se das esculturas abandonadas. Celeida Tostes no Parque da Cidade, Ivens Machado na Carioca, Ângelo Venosa no Leme, Amílcar na Primeiro de Março... Sobre o painel de Carvão todos se calam.

A escultura de mais de milhão de reais de Romero Britto antes encomendada pelo governador em 10 parcelas, agora é doada!


6.

O painel de Carvão vai ser derrubado. Em seu lugar mais um parque temático. Na Disney não. Na Auto Estrada Lagoa-Barra. Parque da Bossa Nova. Prédio em forma de piano em 5 andares. Projeto de Jaime Lerner e Alfredo Britto. Do painel? Só a Comlurb, responsável por sua conservação, sabe. Sabe?

Um ícone para Copacabana (5)

Vale ver o último post da Ana Luiza Nobre —em seu Posto 12—, que recentemente visitou o parque elevado High Line em Nova York, projeto de Diller Scofidio + Renfro (vencedores do concurso do novo MIS do Rio) em parceria com o James Corner Field Operations.

Um ícone para Copacabana (4)

Desenhos e anotações feitos durante as apresentações
Vitor Garcez

1 — Libeskind

2/ 3 — Libeskind/ Bernardes+Jacobsen

4/ 5 — Bernardes+Jacobsen/ Bernardes+Jacobsen

6/ 7 — Rodrigo Cerviño/ Diller Scofidio

8/ 9 — Diller Scofidio/ Isay Weinfeld

10/ 11 — Isay Weinfeld/ Brasil Arquitetura

12/ 13 — Brasil Arquitetura/ Shigeru Ban

14 — Shigeru Ban

Um ícone para Copacabana (3)

2.

Isay Weinfeld

Pouco depois das 10h da manhã do dia 6 de agosto, com o auditório já cheio, Isay Weinfeld chega sozinho para começar a sua apresentação. Começa agradecendo muito pelo convite e dizendo que, em muito tempo de carreira, jamais havia recebido um convite de participar de um concurso como esse e por isso teria feito o projeto “com muito carinho”. Diz ainda de antemão que odeia a palavra conceito e que seus projetos são feitos muito intuitivamente, a partir da experiência que acumulou ao longo da sua vida profissional mas que, ao fazer um projeto para um concurso de ideias, se preocuparia com detalhes somente caso fosse selecionado —afirmando que, no entanto, o detalhe é uma grande preocupação sua.

Conquistando o público com as primeiras palavras, dá um susto na etapa seguinte, ao começar sua apresentação para um concurso de ideias a partir das plantas e com a maquete guardada. Tivemos, portanto que tentar entender antes as plantas e tentar imaginar a cara do edifício, o que era complicado com a velocidade da apresentação. Weinfeld explica minuciosamente os espaços e a organização do projeto —e nós, tentando entender, achávamos que ele não teria outras imagens além daquelas técnicas—, mostra que a circulação para o público do museu aconteceria sempre por fora: primeiro em uma escada externa na lateral esquerda e depois do meio do edifício— onde há um grande espaço livre em que se situa a sala de projeção multidirecional—do lado direito, em outras escadas externas. A escada externa dos primeiros níveis me lembraram —ao ver as plantas e antes de ver as imagens— as rampas da Fundação Iberê Camargo fora de proporção.

Enquanto via as plantas tive a impressão de que ele as fazia com muito rigor —principalmente formal, já que ele mesmo explicou que poderiam haver desvios inclusive nas metragens colocadas no programa, que poderiam ser adequadas depois— mas, de alguma forma, vi uma ideia um tanto simplista na proposta: plantas resolvidas e pensadas bidimensionalmente são colocadas umas sobre as outras e deslocadas, para dar ao edifício a “identidade” que havia sido pedida pelo programa, mas que não interfere na espacialidade dele; as circulações são posicionadas externamente fazendo um percurso por um lado, passando pelo meio —onde há o terraço coberto— e subindo pelo outro —o que passa a ser o ponto mais interessante do projeto. A materialidade é algo à parte: o arquiteto diz que o projeto tem muitos pontos que podem ser modificados e que algumas questões são, para ele, “menores”. A materialidade é uma delas. Por exemplo, apesar da sugestão dele de que o edifício poderia ser branco, ele diz que poderia ser de alguma outra cor clara. Ele sugere ainda que os blocos fossem tratados com materiais diferentes, ainda não rigorosamente definidos e que portanto também poderiam ser modificados —como os dois tipos de elementos vazados que ele propõe nos diferentes blocos que compõem o projeto. Os materias são usados, portanto, para dar a “cara” do edifício, nada mais.

A banca levanta algumas questões —já prometendo que não vai obrigá-lo a falar do “conceito” do projeto, gerando risos. Isay Weinfeld é de fato, muito sicero e humilde na sua fala, para não dizer sedutor. Diz, no meio da sua explanação, que só faz trabalhos que o interessam e sempre foi assim; que cada casa, loja ou edifício que projeta é desenhado nos mínimos detalhes e esse é um dos motivos dele não trabalhar, por exemplo, para o mercado imobiliário (“eles vêm pedir um projeto, explico como eu trabalho e depois eles não voltam mais”) e fala de outra características do seu modo de trabalhar ao longo da apresentação (“também não faço nada em série. Não faço dezenas de lojas de uma rede, por exemplo, faço uma, porque faço cada projeto muito especificamente pro cliente, pro espaço e não teria paciência para fazer muitas lojas iguais, por exemplo, porque acompanho de perto todos os projetos. […] Pra mim não importa se o piso custa 10 reais ou 10 mil reais o metro quadrado, o que importa é o espaço que eu vou criar, não os materiais, que podem ser caros ou baratos, isso depende do cliente”). Ao final, Paulo Herkenhoff fala também da inauguração, alguns dias antes, do Centro Cultural Midrash, que foi projetado por Isay no Leblon; da sua importância e da beleza do painel que cobre a fachada —segundo a opinião de Herkenhoff—, com inscrições em hebraico.

Isay termina sua apresentação e lembra que tinha uma maquete, mas que estava ainda dentro da caixa. Pega a maquete e começa a mostrá-la a cada um dos membros do júri, como se estivesse segurando uma bandeja e termina dizendo: “Estou me sentido um garçom”.

Brasil Arquitetura

Marcelo Ferraz começou sua apresentação dizendo que nada do que proporia para o edifício seria gratuito, mas teria uma base principalmente funcional; e identificaram que o edifício deveria seguir alguns parâmetros: ser um marco na paisagem, ser sustentável, ter simplicidade formal, ter flexibilidade e mobilidade nos espaços internos; que o edifício deveria ser, acima de tudo, uma “celebração da paisagem” —do mar, da montanha e da cidade. No entanto, não foi exatamente isso o que o projeto mostrou.

Alguns projetos recentes tornaram o escritório mais conhecido —como o Museu Rodin e o Museu do Pão— mas esse projeto mostrou principalmente uma influência de sua mestre Lina Bo Bardi, com quem Marcelo começou a trabalhar em 1977, como estagiário nas obras do SESC Fábrica da Pompéia, e seguiu como colaborador até 1996, ano da morte da arquiteta.

O edifício proposto tem uma estrutura convencional, com três grandes planos longitudinais de concreto —o da fachada frontal e outros dois em cada um dos lados da circulação vertical do edifício, localizado nos fundos, como na maioria das outras propostas. Para além desse elemento estruturador —uma caixa em concreto bem convencional—, o projeto é marcado por alguns outros pontos: uma enorme esfera em aço inox, que abriga a sala de projeção multidirecional, é elevada entre o edifício proposto e a empena do prédio residencial vizinho; um recorte orgânico na fachada onde ficam localizadas as escadas para uso do público, também com desenhos muito livres; e uma cobertura em balanço no último nível, “como um boné”, que permitiria uma visão panorâmica da praia a partir do restaurante instalado ali; e pequenas aberturas quadrangulares seriam feitas nas fachadas laterais e de fundos, de acordo com a necessidade dos espaços internos, que seriam definidas em uma fase posterior de projeto. Além disso, sob a esfera de aço seria possível circular para a rua paralela à Av. Atlântica, sobre um piso de vidro colocado para possibilitar a iluminação natural do palco do auditório no subsolo.

A proposta se implanta sobre o terreno como quase toda a parede de edifícios da orla de Copacabana, se afastando de uma das divisas deles através da esfera. O recorte na fachada que permite a vista da praia e a circulação vertical através das escadas ali colocadas não pode, de maneria alguma, ser justificado como um desenho baseado na funcionalidade, senão na forma —pois, para não julgar a forma, no mínimo dificultaria a execução do edifício, com o livre desenho de escadas e guarda-corpos em concreto. Marcelo justificou esse grande vazio vertical seria um contraponto à “horizontalidade presente nos edifícios da Av. Atlântica”.

A parte expositiva não poderia ser mais convencional e a flexibilidade proposta acaba sendo questionada pelo próprio júri. Esses espaços expositivos ficariam nas extremidades do edifício, em cada um dos lados da escada central, e seriam fechados por “painéis móveis” dependendo das necessidades de cada uma das exposições. Caso as exposições precisassem ser todas fechadas, o espaço do meio ficaria, talvez, apertado na parte central. O júri ainda levantou que o vazio das escadas poderia resultar em problemas técnicos, por exemplo: como seria feita a proteção contra incêndios em um espaço vertical que corta todo o edifício? Ao que o arquiteto respondeu dizendo que existe tecnologia para proteger esse tipo de espaço contra incêndios.

Ao fim da apresentação, um dos membros do júri lembra que o projeto ultrapassaria a área permitida para construção pela legislação pois, por não se afastar das divisas, não poderia ter a altura de um edifício afastado das divisas —o fato de não afastar é devido à esfera, que ocupa o espaço aéreo. Eles então justificam dizendo que apesar de não afastar, não deixam de permitir a circulação por baixo da esfera e que, portanto, poderia haver uma negociação para que isso se viabilizasse, por não se tratar de uma edificação comum e ser de uso público. Eis que Jaime Lerner, ao concordar, arremata, citando um jogador de futebol: “bola que está no alto, não está no gol”.

Shigeru Ban

Shigeru Ban era esperado ansiosamente, principalmente pelos alunos de arquitetura que ali estavam, mas assim que alguém de seu escritório entrou na sala com a maquete de seu edifício nas mãos, percebeu-se que ele não tinha entendido nada. O arquiteto veio acompanhado por algumas pessoas da sua equipe e pelo arquiteto Marc Rubin, sócio do escritório paulista Botti Rubin Arquitetos, que seria seu colaborador no Brasil —pelo menos nesse projeto.

A preparação para a apresentação demora algum tempo, pois sua grande maquete, que veio junto com a equipe no avião, precisa ser montada para ser apresentada. O que chamava a atenção na maquete era a grande abóbada que cobria o edifício e, na maquete, era representada por uma trama dourada, mas que na realidade era de madeira; além de um embasamento com pilares em forma de estalactites.

Mais alguns minutos para a apresentação começar e Mr. Ban começa mostrando também um projeto recente seu —o novo Centre Pompidou em Metz—, que havia servido de autorreferência para sua proposta. Na verdade, sua referência a esse projeto vinha da pesquisa de materiais que ele estava fazendo no momento, mais especificamente com a trama de madeira que estruturava o novo Pompidou e cobriria seu MIS.

De fato a sua pesquisa com a madeira nesses projetos é bastante interessante mas, suponho, ela acabou afastando o arquiteto completamente do lugar de inserção do edifício. Um lugar como a frente da praia de Copacabana não poderia ser tratado como qualquer outro. Ele até tenta ao mostrar uma imagem com alguns croquis seus que justificariam as formas arqueadas do embasamento do edifício: uma infeliz referência aos biquinis das cariocas.

O edifício proposto teria uma estrutura convencional em pilares, vigas e lajes de concreto e sobre essa estrutura se apoiaria a estrutura de fechamento e cobertura feita com a trama de madeira. Sob essa trama, um fechamento em um tipo de vidro especial importado e translúcido, que filtra a luz do sol e produz energia —que deve ser um material caro, se formos pensar no preço que ainda custa hoje uma placa fotovoltaica.

Só me resta tentar adivinhar o porquê de um arquiteto que tem projetos tão diversos e uma pesquisa tão interessante tenha proposto um edifício como esse para o Rio. Pois, para além da sua desadequação ao entorno, nem mesmo isolado desse contexto seria interessante, nem mesmo se relevarmos sua visão caricata da nossa cidade.

O segundo dia termina e ficamos com a certeza de que o vencedor estaria mesmo no primeiro dia. Para a maioria das pessoas com quem falei, o vencedor seria mesmo Diller Scofidio + Renfro, mas alguns de nós achávamos que o projeto do Bernardes+Jacobsen deveria ganhar. Quanto aos outros, brasileiros ou estrangeiros, nenhum chegou a emocionar. Em algumas das apresentações ficou a sensação de que não poderiam se tratar de propostas sérias se pensássemos nos currículos de cada um e que alguns nem deveriam estar ali. Muitos outros poderiam ter sido convidados.

Agora resta esperar pela construção do “novo ícone” da praia de Copacabana, como se ela precisasse de um.

Um ícone para Copacabana (2)

Foi anunciado agora à tarde, pelo governador Sérgio Cabral, o vencedor do concurso de idéias para o novo Museu da Imagem e do Som do Rio. O vencedor para a realização do projeto foi o escritório norte-americano Diller Scofidio + Renfro. Não era o que eu gostaria, mas já esperava.
Mesmo assim, amanhã posto a continuação das crônicas das apresentações.
A notícias foi divulgada no site do jornalista Sidney Rezende e no G1.

Um ícone para Copacabana

Crônicas das apresentações de ideias para o MIS por alguns ícones —outros nem tanto— da Arquitetura mundial

Vitor Garcez

No início de 2008 foi divulgado na imprensa que o edifício da histórica boate Help e os restaurantes Sobre as Ondas e Terraço Atlântico seriam desapropriados pelo governo do Estado para que fosse construído um novo edifício para o Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro, que teria o projeto coordenado pela Fundação Roberto Marinho (FRM) —que além deste projeto, coordenará o futuro Museu do Amanhã, incluído no projeto de revitalização da Zona Portuária. Dito e feito: em março deste ano, foi divulgado que o pedido de desapropriação havia sido aceito, deveria acontecer em 60 dias, e o governo já havia depositado R$13 milhões em juízo.

Nos dias 5 e 6 de agosto aconteceria —já com a antiga Help desapropriada— em um auditório na FRM, patrocinadora e responsável pela construção do novo MIS, uma série de apresentações do “concurso de ideias” para o edifício. Recebi com surpresa, no dia 30 de julho, a ligação de um professor da PUC-Rio, me convidando para ir à tal apresentação —como aluno da PUC-Rio— e explicando que a PUC havia recebido um convite da FRM para enviar às apresentações um professor e cinco alunos do curso.

1.

No dia 5 de agosto cheguei à Fundação, com endereço no bairro do Rio Comprido, às 13h50min, portanto dez minutos antes do horário combinado para a chegada. Dei meu documento na portaria, depois de esperar que outras pessoas se identificassem, e disse ser da PUC. Recebi uma etiqueta-crachá com o meu nome, minha identidade de volta e a instrução de subir ao 8º andar do edifício. Subi, dei meu nome de novo na porta do auditório, que foi conferido na lista. Sentei na terceira fileira e falei com um aluno da UFF que sentou ao lado, que não conhecia até esse momento, mas que comentou sobre a estranheza da situação. Até aí eu ainda tinha dúvidas se seriam realmente os arquitetos convidados que apresentariam os projetos e não sabia sequer a lista completa dos escritórios que estavam participando do concurso. À nossa frente havia uma grande mesa em U, onde observei alguns dos nomes dos membros do júri, que eram no total 11, mas poucos já estavam sentados. Havia aproximadamente 40 cadeiras na plateia, mas no máximo metade estava ocupada e avisaram que quem chegasse depois do início da apresentação só poderia entrar no intervalo.

Daniel Libeskind

Alguns minutos depois, já passando das 14h, uma movimentação e parecia que o primeiro arquiteto já estava na porta. Alguns dos membros da mesa foram recebê-lo e outros ficaram sentados. Era Daniel Libeskind, que estava acompanhado da sua mulher Nina Libeskind, que é coordenadora do seu Studio Daniel Libeskind, mas não é arquiteta.

Hugo Barreto, secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, começou agradecendo a presença do arquiteto e apresentou todos os membros do júri que, junto com ele, era composto pela secretária estadual de cultura e presidente da mesa, Adriana Rattes —a mesa foi, na verdade, coordenada pelo Hugo Barreto que se saiu, por sinal, muito bem—; pela presidente do MIS, Rosa Maria Araújo; pelo secretário municipal de urbanismo, Sérgio Dias; pelo arquiteto, ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba, Jaime Lerner; pela diretora do Museu da República, Magali Cabral; pela arquiteta da FRM e coordenadora do programa de necessidades do edifício que foi entregue aos concorrentes, Lucia Bastos; pelo curador e crítico de arte, Paulo Herkenhoff; pelo arquiteto do escritório norte-americano Ralph Appelbaum Associates, James Cathcart e pela arquiteta Bel Lobo.

Libeskind não tinha maquete, mas começou sua apresentação com uma perspectiva da sua proposta, que me deixou surpreso. Libeskind falou da relação do edifício com o entorno e que um edifício para um museu na praia de Copacabana tinha que ser um ícone. Segundo ele o edifício deveria dar prioridade às sensações. A palavra spectacular foi falada enquanto mostrava imagens das possibilidades de projeções de imagens nas fachadas do edifício. Imagens que ficariam tão tortas quanto o edifício. Provavelmente, se a praia de Copacabana precisasse de uma tela de projeção ao ar livre, teria uma, e seria melhor que fosse reta. Apesar de sua capacidade de retórica, não conseguiu convencer, pois além de estranho, seu edifício não tinha muito propósito. Era claramente a forma pela forma. Quando vi as plantas isso ficou ainda mais claro, pois elas sequer condiziam com a fachada, além das quebras que essa fachada impunha à planta. Os blocos separados que a primeira imagem sugeria não acontecia na planta, e o edifício foi resolvido como poderia ser em um paralelepípedo: os serviços e circulações no fundo e o que sobrava abrigava os outros usos (café, restaurante, auditórios, salas de exposição temporária e permanente etc.).

Ao fim da apresentação, o secretário da FRM explicou que os membros do júri haviam se encontrado nos dois dias que precederam as apresentações para analisar o material enviado pelos arquitetos e que, após analisarem os trabalhos, listaram uma série de perguntas que deveriam guiá-los na observação das apresentações, visto que a banca era tão diversa, em seguida as leria para que o arquiteto e o júri pudessem julgar que questões não haviam bem ficado claras pela explanação do arquiteto. As questões eram: “Por que esta linguagem em um edifício na Av. Atlântica?”; “Qual a ideia/ conceito mais forte da proposta?”; “Que especificidades a proposta têm em relação ao programa de necessidades?”; “De que forma o projeto lida com a sustentabilidade?” e “Qual seria a metodologia de trabalho do escritório no Rio de Janeiro, principalmente para os arquitetos estrangeiros?”.

Barreto julgou, como esperado, que a pergunta sobre a linguagem proposta para o edifício deveria ser mais aprofundada por Libeskind, que novamente não chegou a convencer com a sua resposta, ao dizer que aquele edifício seria um contraponto à morfologia existente no entorno e deveria ter, portanto, uma “identidade distintiva”. Pior ainda foi quando disse que um edifício na Av. Atlântica deveria ter “sensualidade”. Talvez a arquitetura de Niemeyer seja a única arquitetura brasileira que ele conheça e, ouso dizer, as formas pontiagudas da sua ideia não são "sensuais" como as de Niemeyer.

Libeskind recebeu os agradecimentos de Adriana Rattes e deixou o auditório, depois de aplausos e entreolhares duvidosos. Saímos todos para um café no corredor e soube que os próximos seriam os cariocas Thiago Bernardes e Paulo Jacobsen, titulares do Bernardes+Jacobsen Arquitetura; em seguida o não tão conhecido Rodrigo Cerviño Lopez, sócio do Tacoa Arquitetos e autor do projeto da galeria de Adriana Varejão em Inhotim (Brumadinho, Minas Gerais); os últimos seriam Elisabeth Diller e Ricardo Scofidio, sócios do Diller Scofidio + Renfro.

Depois de nos acomodarmos novamente no auditório já havia mais gente, várias pessoas atrasadas só puderam entrar no intervalo, e plateia passou a ter aproximadamente 30 pessoas.

Bernardes+Jacobsen

Paulo Jacobsen e Thiago Bernardes entram no auditório. Depois de alguns minutos de preparação, e com todos sentados Thiago começa sua apresentação —sempre ao lado de Paulo, com quem reveza ao falar— pedindo que o seu nervosismo fosse relevado, dada a importância do momento para ele. Thiago é jovem e Paulo chegou a trabalhar com seu pai, Cláudio Bernardes e seu avô, Sergio. Diz ainda que esse projeto tem uma importância especial para eles que, como cariocas, convivem e conviveram com a Avenida Atlântica durante toda a vida, passando diariamente pelo local onde será instalado o MIS.

A apresentação dos dois começa com imagens aéreas do terreno e Thiago fala sobre as montanhas que são visíveis nessa imagem, dizendo que é algo comum na cidade, e mesmo que muitas vezes imperceptível, muito frequentemente uma rua termina aos pés de uma montanha. A paisagem original serve de referência para o projeto: o mar, mas principalmente as pedras. Ele diz que as pedras parecem, no entanto, pesadas, e o edifício precisa de leveza diante da parede de edifícios da avenida à beira-mar. Ao mostrar vários dos metaesquemas de Helio Oiticica, ele diz terem constatado como as diversas linhas diagonais podem dar leveza ao que antes era pesado. A proposta dos arquitetos na primeira fase era, possivelmente, a que menos se destacava, pois não tinha a “identidade própria” que o próprio edital supostamente sugeria. Ele mostra então um diagrama da evolução do projeto: na primeira fase, alguns paralelepípedos regulares eram ligados por escadas e entremeados por espaços livres, o material da fachada também não conferia identidade ao edifício.

A partir das pedras, dos metaesquemas e de necessidades funcionais do edifício, como o auditório, se definiria a forma da proposta e inclusive o material e o método construtivo. Quatro blocos são criados com a divisão do programa de necessidades proposto, a partir do que já havia sido estudado na proposta anterior; duas torres fazem a circulação vertical e estruturam o edifício. As “pedras” tem sua forma definida e, no térreo, convidam à entrada do edifício por uma fenda —que também faz a ligação com a rua paralela à Av. Atlântica—, propondo ainda um leve desnível para baixo em relação ao nível da calçada, para reforçar o convite. Sobre esses dois blocos, um terraço é proposto como um espaço aberto para contemplação da vista. De dentro do edifício, com grandes empenas, as visadas são impostas e, em cada um dos blocos, vê-se um novo recorte da paisagem sempre junto com uma parte do edifício e mediado por ele. Nunca se vê somente a praia, de frente, a não ser no terraço aberto.

A parte técnica foi bem estudada e, depois de falar de pontos como reuso de água e ar condicionado, mostram um detalhamento de parte do edifício, que mostrava a estrutura metálica de um dos blocos, as instalações e como seria executada a fachada: que teria fechamento em steeldeck com revestimento em concreto —que seria desenvolvido especialmente para esta obra junto com um grupo de pesquisa em uma Universidade, conforme falou o consultor da parte técnica do projeto, o engenheiro José Luiz Canal (que foi responsável pela obra da Fundação Iberê Camargo, projeto do português Álvaro Siza em Porto Alegre).

Eles passam um pouco do tempo limite e ao fim da apresentação não restam muitas dúvidas sobre o projeto e, pelo menos a plateia de estudantes de arquitetura, ficou muito bem impressionada pela proposta. Como na apresentação anterior e em todas as seguintes, Hugo Barreto faz suas perguntas e questiona se eles gostariam de aprofundar mais em algo, o que dá mais algum tempo para que Thiago e Paulo clarifiquem algumas questões conceituais e Canal outras técnicas, mas nada já não tenha sido bem explicado antes. Apesar da informalidade da apresentação dos arquitetos frente à experiência do discurso da apresentação do Daniel Libeskind, a apresentação termina e eu fico com alguma esperança.

Rodrigo Cerviño Lopez

A esperança de que o Rio poderia ter um belo edifício projetado por um carioca continuaria depois da apresentação inconsistente do paulista Rodrigo Cerviño Lopez, que me faz pensar ainda na ausência dos paulistas Andrade Morettin Arquitetos, MMBB e SPBR. Sem intervalo para o café, por causa do atraso na apresentação anterior, Rodrigo começa sua apresentação dizendo que a forma do edifício é decorrente dos dois auditórios colocados na extremidade inferior e na cobertura do paralelepípedo rotacionado, que parece fincado no terreno. Rodrigo mostra algumas perspectivas, sem conseguir falar muito sobre elas, provavelmente por causa do nervosismo, mas talvez não soubesse bem o porquê do que tinha feito.

O projeto é todo interiorizado e praticamente nega sua localização e a paisagem à sua frente. O imenso bloco de concreto fechado tem duas possibilidades de enxergar a vista: um vazio que abriga o restaurante, já nos últimos pavimentos do edifício e a cobertura, onde se propõe um auditório ao ar livre, que seria servido por um telão instalado na empena do prédio vizinho, se o vizinho deixasse. Quando começam a aparecer as plantas, ele descreve espaço por espaço e de fato se tem algo que estava aparentemente bem resolvido na proposta, eram as plantas.

As circulações mais valorizadas da proposta são escadas colocadas entre duas paredes de concreto, com iluminação zenital, mas que no entanto, certamente não seriam muito agradáveis de se subir. Eu certamente preferiria os elevadores. O acesso principal, ao invés de frontal, é lateral, onde é colocada uma grande escada externa e por onde se desce ao foyer principal, que fica em um nível inferior ao térreo. Também para essa lateral pode-se abrir o fundo do palco do auditório, que poderia ser visto da calçada, propondo uma relação entre o interior e o exterior do museu, mas que não sei se de fato aconteceria (pelo barulho externo, pelo uso do auditório etc.)

Os espaços internos que, como disse antes, seriam os mais valorizados, são mostrados em perspectivas como grandes vazios, com paredes, pisos e tetos em concreto aparente, sem nenhuma instalação ou iluminação sugerida nesta fase. O arquiteto explica que precisaria de consultores em uma etapa posterior para definir esses pontos. Os espaços são fechados e escuros nas imagens, supostamente, devido às necessidades de um museu que trata de imagem e som, o edifício realmente não tem janelas.

Depois de todas essas questões em aberto no projeto, Rodrigo é questionado pelo júri, entre outras coisas, em relação à qualidade térmica e acústica do concreto para um museu desse tipo —já que o MIS não é Inhotim, que tem exposições de arte —, e responde que poderia haver um tratamento para que o espaço pudesse ter a qualidade de vida, mas que como já havia dito, precisaria de consultoria e estudos para isso em uma fase posterior. Depois das insistências do júri em relação ao uso do concreto, Rodrigo fechou dizendo: “Sou paulista. Sou de uma escola que começou com Artigas, depois Paulo Mendes da Rocha…”

Não precisava falar mais nada. Depois de mais um intervalo para um café, a última e mais aclamada de todas as apresentações desses dois dias.

Diller Scofidio

Elisabeth Diller e Ricardo Scofidio chegaram com uma pose de que sabem quem são. Elisabeth estava quase toda de preto e Ricardo era um pouco mais acessível. O escritório foi o último a fazer parte do concurso, portanto não participou da “primeira etapa” e aceitou o convite da FRM só três semanas antes da apresentação, e foi esse o tempo que eles tiveram.

Elisabeth começa sua apresentação mostrando alguns projetos de seu escritório —algo que nenhum dos escritórios anteriores havia feito— como o, merecidamente aclamado, projeto para o High Line, em Nova York, feito com o Field Operations. Segue, então, falando —com sua dicção e discurso apurados— sobre a legislação que é imposta ao edifício, sugerindo quais poderiam ser as possibilidades de não seguir as regras: começa mostrando um desenho de um bloco horizontalizado e depois uma proposta transgressora de criar uma grande torre retorcida, com altura um pouco inferior ao morro do Cantagalo, logo atrás; depois com os pés mais na realidade, propõe como o edifício, como o tamanho imposto pela legislação, poderia ter partes a avançar sobre a calçada ou sobre o espaço aéreo, através de artifícios mecânicos.

Então me fez lembrar de um concurso que o Koolhaas participou em que não seguiu o que o edital impunha definindo outro terreno para a intervenção, e que acabou ganhando. Mas depois do susto ao pensar que eles não apresentariam nada viável para o MIS, Elisabeth começa a falar do entorno do edifício, das montanhas, do mar, da muralha de edifícios e mostra um diagrama que ilustra a sua proposta: uma fita de calçada que é dobrada para formar um ‘S’. Sua proposta é fazer uma extensão da calçada, que continuaria definindo a circulação do edifício através de escadas e patamares que configurariam a própria fachada do museu. Atrás dessa circulação, uma pele em elemento vazado —um cobogó contemporâneo— que induziria a vista: em cada parte do edifício o elemento vazado seria direcionado de formas. Portanto, nesse caso, não é a arquitetura que intermedia a vista, mas a pele, a superfície do edifício. Os espaços principais são visíveis desta circulação externa, que é aberta como uma varanda. No fundo do edifício, como na maioria das propostas, as partes técnicas e todas as circulações obrigatórias pela legislação e pelo programa: elevadores e escadas enclausuradas.

Em seguida, provam que não estão a passeio ao, diferente de todos os outros concorrentes, fazerem sugestões museográficas para o MIS, principalmente para as exposições permanentes. Ao dar como exemplo uma exposição com fantasias da Carmen Miranda, sugerem como os gadgets dos visitantes poderiam ser usados com informações complementares às exposições. Mostram ainda uma possível exposição de fotografia de Augusto Malta —mostrando que visitaram o site do MIS, mesmo que em português, para ter ideia do seu acervo— e as possibilidades das mais recentes tecnologias de touchscreen e geolocalização. Tudo isso em imagens em movimento muito bem feitas.

A apresentação termina com um vídeo que impressiona a todos: um visitante passeia pelos espaços expositivos, desde a calçada —de onde pode ver um show de bossa no auditório do subsolo— até o restaurante/ piano-bar em um nível superior onde há mais um show de bossa-nova, passando por diversos outros espaços. Muitas figuras humanas, nas imagens do vídeo, passeiam pelos espaços do edifício, mas todas as pessoas são brancas: “zombies”, como a própria Elisabeth ressaltou, acrescentando: “é esquemático, da próxima vez as pessoas parecerão mais felizes”.

Depois dos aplausos e de algumas questões levantadas pelo júri, um dos membros da banca não resistiu e disse: “Eu sei que não é algo dentro do protocolo pra essa apresentação, mas tenho que dizer que esse é o tipo de apresentação que deveríamos assistir de joelhos” —tratava-se do secretário municipal de urbanismo, Sérgio Dias. Eu não ajoelharia.

Esse primeiro dia de apresentações acabou por volta das 18h30min. No dia seguinte começariam às 10h da manhã e seriam mais três escritórios, mas até esse momento não sabia quais, só que Shigeru Ban era um deles. Depois soube que seria o último dos três, depois do Isay Weinfeld seguido do Marcelo Ferraz, do Brasil Arquitetura.

Continua...

Esse texto contou com a colaboração e a leitura atenta de Ana Luiza Nobre e seu Posto 12, onde também o está divulgando.

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http://www.mis.rj.gov.br/noticia0324b.asp


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