Raul Mourão— Como você ve o atual momento do MAM no cenário das artes plásticas brasileiras? Muitos acham que o museu vive uma crise, que já não tem a importância de outras épocas. Qual o seu diagnostico? Qual o grande desafio do MAM hoje?
Luis Camillo Osório— Tudo que for feito é bom para o MAM. Investimento em cultura puxa mais investimento. Esta história da Pinacoteca, no entanto, independentemente de estar agora na curadoria do MAM, me parece uma enorme furada. É pior do que o Guggenheim, pois não tem nem a coleção deles por trás e nem a simbologia de novidade que haveria no tal projeto abortado. O nome já mostra que é uma idéia do passado. Pinacoteca é coisa do século XIX não do XXI; ficar copiando São Paulo é de um provincianismo anti-carioca. O MAM é o principal museu da cidade e todas as coleções que quiserem vir se agregar tenho certeza que serão bem vindas. Uma cidade que não cuida do seu museu de arte moderna não merece sediar uma olimpíada!
Luis Camillo Osório— O público do museu tem que ser trabalhado. Há que se abrirem novas frentes. Não pode ser um nicho das artes plásticas e sim um lugar de agregação dos vários segmentos da cultura carioca e brasileira. O público de dança, de teatro, de poesia, enfim, o público de arte tem que saber que ali é também a sua casa. Era assim no passado e iremos trabalhar para isso. O Frederico Coelho, que será meu assistente, fez o doutorado em letras sobre os escritos do Oiticica e o mestrado sobre música popular brasileira. É este universo ampliado que temos que resgatar, propor atividades combinadas, discussões que atravessem estes vários circuitos de criação. O exercício experimental é fermentado em um território poético comum e é isso que devemos viabilizar.
Luis Camillo Osório— Esta resposta anterior já toca na pergunta sobre pesquisa e educação. O artista tem que perceber sua dimensão pedagógica, uma pedagogia não convencional. Além disso, o museu tem que ser uma mistura de laboratório e de escola, ou seja, é um lugar de experimentação e de formação. A atividade educativa com escolas está desmobilizada faz alguns anos e isso tem que mudar. São as escolas que habitam o museu durante a semana e criam um calor necessário para o visitante. Este calor é parte do que eu falava em relação ao acolhimento do museu. Há que se criar programas originais. Trabalhei no MAC com o Guilherme Vergara e quero muito desenvolver projetos com ele nesta área educativa. A educação e a pesquisa são braços fundamentais da curadoria. Outra coisa é este convênio que estou desenhando entre a PUC e o MAM. Sou professor da PUC de tempo contínuo, vou continuar dando aula na graduação e na pós-graduação, orientando dissertações de mestrado e teses de doutorado. Acho que é uma parceria interessante para as duas instituições. Os alunos da PUC - de vários departamentos - podem ir para o museu fazer estágio, ajudar no trabalho e ganhar experiência. Quero incentivar também a discussão de arquitetura e design, além de criar um grupo de estudo em curadoria e para isso vou procurar alunos de pós-graduação e professores da PUC. Enfim, teremos muito trabalho e contamos com o apoio não só do meio de arte, mas de todos os cariocas.
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